Infecção da córnea é grave e afeta, principalmente, quem usa lentes de contato

today22 de março de 2024
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Cerca de 93% dos casos de ceratite por Acanthamoeba ocorrem em usuários de lentes de contato

Recentemente, uma dentista brasileira veio à público relatar que contraiu uma ceratite por Acanthamoeba. O tema viralizou na mídia e nas redes sociais, causando preocupação na população em geral.

Mas é preciso cautela, uma vez que a infecção da córnea por Acanthamoeba é rara dentro da população em geral. 

Por outro lado, até 93% dos casos de infecção da córnea por Acanthamoeba são relatados entre usuários de lentes de contato. Isto reforça a ligação crucial entre esta infecção ocular e o uso de lentes de contato. O relato da dentista corrobora estas estatísticas, uma vez que ela afirma que a infecção está relacionada ao mau uso das lentes que ela fazia.

Infecção da córnea por Acanthamoeba: Tudo que você precisa saber
A ceratite por Acanthamoeba é uma infecção da córnea rara, mas frequentemente mal diagnosticada, que afeta principalmente usuários de lentes de contato e, ocasionalmente, resulta de um trauma na córnea em pessoas que não usam lentes de contato.

Segundo Dra. Maria Beatriz Guerios, oftalmologista geral e especialista em glaucoma, a Acanthamoeba é um protozoário parasita unicelular de vida livre, amplamente difundido em todo o mundo.

“Este micro-organismo está presente em vários habitats, incluindo água, ar, solo e poeira. Esta ameba não precisa de nenhum hospedeiro para se reproduzir, por isso é abundante na natureza. Além disto, é resistente a condições extremas, como variações de temperatura, tempo seco, flutuações de pH e medicamentos antiamebianos”, explica.

Vale esclarecer que, diferentemente da forma como foi veiculado nos diversos canais de informação, a Acanthamoeba não “come” os olhos. Nos estágios iniciais da infecção, ela adere à superfície da córnea.

“Esta adesão estimula a liberação de enzimas e toxinas que resultam na destruição do tecido mais superficial da córnea. Este processo facilita a invasão total do tecido corneano. Uma vez aderida, a Acanthamoeba se reproduz muito rápido e de forma exponencial”, diz a oftalmologista.

Mau uso das lentes de contato é o principal fator de risco
A explicação para o risco aumentado da ceratite por Acanthamoeba em pessoas que usam lentes de contato é que o material das lentes é propício para a adesão desta ameba.

A água é o principal meio de contaminação. Nadar com as lentes de contato em piscinas, mar, lagos e rios, é um comportamento que eleva ainda mais a chance de contrair a infecção.

Outro meio de contaminação é usar água da torneira para higienizar as lentes, bem como a falta de higienização correta das lentes e dos estojos. Por fim, dormir de lentes ou usá-las de forma ininterrupta aumenta em até 15 vezes o risco de desenvolver a ceratite por Acanthamoeba.

Em casos mais raros, a infecção pode ocorrer em pessoas que sofreram algum tipo de trauma na córnea e entram em contato com meios contaminados.  

Sinais e sintomas da infecção pela Acanthamoeba
Em geral, as manifestações da ceratite por Acanthamoeba ocorrem em um dos olhos. Raramente a infecção é bilateral. Um dos sintomas mais característicos, mesmo nos estágios iniciais, é a dor intensa no olho que pode estar ligada à invasão das células nervosas da córnea.

Os outros sintomas são:
– Redução da acuidade visual;
– Vermelhidão na esclera (parte branca dos olhos);
– Sensação de corpo estranho no olho;
– Sensibilidade à luz;
– Lacrimejamento;
– Secreção purulenta.

Vale ressaltar que os sintomas podem variar de leves a graves. Outro ponto é que há pessoas que podem não apresentar todas as manifestações.

Diagnóstico é um desafio, tratamento idem
Infelizmente, estudos apontam que 75% a 90% dos pacientes com ceratite por Acanthamoeba são diagnosticados incorretamente.

“Em muitos casos, devido às similaridades dos sintomas com outros agentes infecciosos, como o herpes, por exemplo, o diagnóstico pode demorar. Como resultado, apesar dos tratamentos com antibióticos ou antivirais, o paciente não apresenta melhora e, em muitos casos, percebe-se uma piora do quadro”, comenta Dra. Maria Beatriz.

A identificação da Acanthamoeba pode ser feita por meio da raspagem da córnea e análise do tecido ou ainda por meio da microscopia especular da córnea. Neste exame, o oftalmologista consegue observar, na hora, se há presença do protozoário no tecido corneano.

O tratamento da infecção da córnea por Acanthamoeba também é desafiador pela resistência deste micro-organismo aos medicamentos e ao ambiente como um todo. O prognóstico é melhor quando o tratamento é iniciado nas 3 primeiras semanas após a infecção.

Diagnóstico tardio pode causar perda da visão
Já quando o diagnóstico é mais tardio podem ocorrer a perfuração, cicatrizes e úlceras na córnea. Estas condições são graves e podem levar à perda da visão. Em alguns casos pode ser necessário um transplante de córnea. Outras complicações que podem ocorrer são glaucoma, atrofia da íris e catarata.

“O mais importante é que os usuários de lentes de contato entendam a importância do uso consciente e responsável das lentes. Adotar uma rotina rígida de limpeza das lentes e dos estojos, bem como não dormir ou usá-las por tempo prolongado. Por último, retirar as lentes para as práticas aquáticas e até mesmo para tomar banho, pois a água encanada também é um meio contaminado pela Acanthamoeba”, finaliza Dra. Maria Beatriz.

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