Oficinas reforçam importância do caxambu entre jovens quilombolas
Desde agosto as crianças e os adolescentes do Quilombo Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, vêm tendo a oportunidade de aprender mais sobre sua cultura e, em especial, sobre o caxambu — manifestação de origem afro-brasileira dançada em uma roda e cantada em versos, ao som de tambores —, graças à realização do projeto Oficina de Formação de Caxambuzeiros.
Todos os meses são realizadas oficinas (que consistem na formação de rodas de caxambu) conduzidas pelas mestras do caxambu Santa Cruz. Por meio delas, os jovens do local têm um momento prático de aprendizado sobre o folguedo, e, assim, reforça-se a difusão dos conhecimentos tradicionais às novas gerações.
“Levar esses conhecimentos para as nossas crianças e os nossos adolescentes garante uma continuidade da transmissão desses saberes, e, consequentemente, a manutenção e o fortalecimento do caxambu enquanto prática cultural”, afirma Fátima Buzatto, turismóloga, moradora de Monte Alegre e uma das organizadoras do projeto.
A edição mais recente do projeto, realizada no último sábado (18), ocorreu no município de Alegre, durante o VII Situa Negro, evento idealizado e produzido pelo grupo Caxambu do Horizonte.
Zimá Domingos é uma das organizadoras do evento. Ela conta que “no decorrer da nossa trajetória, fomos atravessados pelo preconceito e pelo racismo por diversas vezes. Então, partindo de nossas experiências, idealizamos o Projeto Situa Negro. Situamos em um mesmo espaço outros grupos da cultura popular, com suas artes, suas danças e seus saberes, que se somam às experiências de profissionais diversos da área de ensino e cultura, que dividem seus conhecimentos e colaboram para difundir e reforçar a verdadeira história do povo negro”.
O evento contou com roda de conversa sobre os 20 anos da Lei 10.639/2003 (que exige que o currículo escolar inclua o estudo da história da África e da cultura afro-brasileira), além de manifestações de vários grupos culturais.
Também participaram da festividade os grupos Caxambu da Velha Rita, do bairro Zumbi, e Caxambu Alegria de Viver, da comunidade de Vargem Alegre, que se apresentaram com grupos de outros municípios da região e, claro, com o Caxambu do Horizonte, os anfitriões da festa.
Para Genildo Coelho Hautequestt Filho, arquiteto e coordenador de projetos, “iniciativas como essas são de grande importância na manutenção da oralidade dos ensinamentos sobre o caxambu. Isso significa muito para a cultura de Cachoeiro de Itapemirim e do Espírito Santo”.
As edições do projeto Oficina de Formação de Caxambuzeiros ocorrem todos os meses, no quilombo Monte Alegre, e são totalmente gratuitas e abertas à visitação popular. Ele é viabilizado com recursos do Funcultura, da Secretaria da Cultura, por meio do Edital 06/2022 – Patrimônio Cultural, e conta com o apoio da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense e do Studio Inovar Arquitetura.
Encerramento de projeto
No próximo dia 25 haverá o encerramento de outro projeto que está sendo desenvolvido na comunidade quilombola: o Memórias do Quilombo Monte Alegre (realizado com recursos públicos do Governo do Espírito Santo viabilizados pela Lei de Incentivo à Cultura Capixaba, da Secretaria da Cultura, e patrocinado pela ES Gás). Sua última edição contará com a presença de grupos de outras localidades, uma grande roda de caxambu e a tradicional feijoada. Assim como os demais projetos realizados no quilombo ao longo do ano, este também é aberto à visitação gratuita, e terá início a partir das 18h.
foto Luan Volpato