Quilombo Monte Alegre recebe visitantes para apresentações de caxambu
O último sábado (01) foi de intensos trabalhos no Quilombo Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim. É que dois projetos essenciais para a comunidade foram realizados: o Difusão da Identidade Caxambuzeira e o Roda do Mês – financiados, respectivamente, pela Secretaria Estadual de Cultura, através do Funcultura, e pela prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, por intermédio da Lei Rubem Braga.
A roda de conversa, que abriu as atividades, contou com a interação entre dois grupos de caxambu (uma das premissas do projeto Difusão da Identidade Caxambuzeira): o Santa Cruz, do próprio quilombo, e o Caxambu do Horizonte, do município de Alegre, além da presença de lideranças comunitárias.
Foram discutidos assuntos importantes para a preservação do patrimônio imaterial, entre eles o racismo, a intolerância religiosa e as dificuldades que os grupos enfrentam para manter suas atividades culturais.
Um dos questionamentos mais significativos é feito pela caxambuzeira Rosimar Domingos: “Se os nossos grupos são considerados patrimônio imaterial pelo Estado, por que então ele não nos subvenciona? Por que ele não financia a nossa manutenção e a difusão dos nossos conhecimentos em nossas comunidades?”.
O caxambuzeiro José Jorge Domingos, também do Caxambu do Horizonte, destaca a responsabilidade que ele tem como mestre do grupo, e que, se eles conseguissem minimamente uma subvenção do Estado ou do Município, o trabalho desenvolvido por eles na comunidade seria ainda melhor.
Fátima Buzatto Moura, de Monte Alegre, propõe que essas discussões sejam levadas para os conselhos municipais e para o conselho estadual de cultura. “Se somos patrimônio nacional, devidamente reconhecido pelo Estado brasileiro, então o Estado precisa criar políticas públicas para a preservação e para a manutenção de nossos conhecimentos”.
As atividades seguiram com o projeto Roda do Mês, que promove a realização de rodas de caxambu com os dois grupos, os quais, com suas características próprias, apresentam-se, interagem e trocam seus conhecimentos e suas tradições.
A mestra Maria Laurinda Adão destaca que, se não fosse a parceria com a Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial de Cachoeiro, ela, sozinha, nunca conseguiria participar de um edital e o Caxambu Santa Cruz não seria tão conhecido como é hoje. Isso porque, atualmente, o financiamento da cultura é feito principalmente por meio de editais públicos.
“Não considero justa a seleção por editais para o nosso segmento, uma vez que só conseguem participar de editais pessoas que são capazes de dominar a burocracia do Estado Brasileiro, e essa não é a realidade da maioria dos integrantes dos nossos grupos de patrimônio imaterial”, afirma Genildo Coelho Hautequestt Filho, gestor de projetos da Associação.
O encerramento das atividades do dia ocorreu com uma feijoada, preparada por moradores do próprio quilombo, que é compartilhada com todos os presentes e que preserva as características originais desse prato histórico e repleto de significado para a identidade dos povos quilombolas.
Pesquisa acadêmica
Precedendo esses dois projetos, ao longo do dia também ocorreu uma visita técnica de estudantes de graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Multivix – Vitória à comunidade. Por meio dessa visita, alunos e professores percorreram Monte Alegre e investigaram as casas tradicionais do quilombo, para elaborar uma proposta de intervenção urbana na comunidade, levando em consideração a sua realidade e a sua cultura.
O projeto é financiado pela Fapes e coordenado pelos professores Lucas Damm Cuzzuol e Genildo Coelho Hautequestt Filho.
fotos Luan Volpato