Tradição do caxambu atravessa gerações do quilombo Monte Alegre
A comunidade quilombola de Monte Alegre, localizada no interior de Cachoeiro de Itapemirim, vem sediando, neste segundo semestre, os projetos Ponto de Memória Quilombola e Memórias do Quilombo Monte Alegre. Trata-se de iniciativas pelas quais os conhecimentos tradicionais do grupo de caxambu Santa Cruz são transmitidos aos jovens da localidade, com o intuito de valorizar e fortalecer o grupo, fomentando a incorporação de novos membros, principalmente as crianças e os adolescentes, que garantirão sua continuidade.
Com mais de 135 anos de fundação, o Santa Cruz é um tradicional grupo de caxambu capixaba, certificado pelo IPHAN como Patrimônio Imaterial do Brasil. Ele é comandado, há mais de 60 anos, pela mestra Maria Laurinda Adão, e conta com a participação de diversos moradores da comunidade.
Graças a esses projetos de valorização do patrimônio imaterial, os jovens de Monte Alegre aprofundam seus conhecimentos sobre as tradições do Santa Cruz e da comunidade. Tudo acontece por meio da realização de uma roda de caxambu no centro do quilombo e de oficinas, ministradas por Maria Laurinda, Adevalmira Adão Felipe, Neuza Gomes Ventura e Geralda Nogueira Calixto – mestras do grupo –, que transmitem oralmente suas experiências às novas gerações.
Os jongos, os toques de tambor e os passos da dança também são ensinados aos mais novos. Além disso, também são promovidas rodas de conversa entre os idosos da comunidade, com discussões pertinentes à realidade do local.
“As rodas que temos realizado nos últimos meses têm um balanço muito positivo, com a participação ativa das nossas crianças, dos nossos adolescentes e também dos visitantes”, comenta a mestra Geralda.
Sobre os visitantes, ela se refere aos grupos que, mensalmente, visitam o quilombo e integram as rodas. Na edição ocorrida no último sábado (21), a participação foi do grupo Caxambu da velha Rita, do bairro Zumbi, comandado pela mestra Niecina Ferreira de Paula Silva (mais conhecida como dona Isolina).
Segundo Fátima Buzatto, uma das organizadoras do projeto e moradora de Monte Alegre, “percebemos que, em função da chegada de algumas religiões neopentecostais no quilombo, muitas dessas crianças infelizmente deixaram de participar das rodas de caxambu da comunidade. Esses momentos práticos de contato real com a sua cultura ancestral fortalecem e garantem a continuidade dessa tradição tão rica e desse grupo tão essencial para a cultura do Espírito Santo”.
O projeto Ponto de Memória Quilombola é viabilizado com recursos do Funcultura, da Secretaria da Cultura, por meio do Edital 06/2022 – Patrimônio Cultural, e conta com o apoio da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense e do Studio Inovar Arquitetura.
Já o Memórias do Quilombo Monte Alegre é realizado com recursos públicos do Governo do Espírito Santo viabilizados pela Lei de Incentivo à Cultura Capixaba, da Secretaria da Cultura, e conta com o patrocínio da ES Gás.
O Memórias do Quilombo Monte Alegre terá sua última edição no dia 25 de novembro, com a presença de diversos grupos de outras localidades. Haverá uma comemoração de encerramento, que contará com uma grande roda de caxambu e a tradicional feijoada. Todos os projetos realizados no quilombo ao longo do ano são sempre abertos à visitação gratuita.
fotos Luan Volpato
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